Na tela, brinquedos e brincadeiras
Carolina Bessa
28/07/2009 - Brincar na rua, com pião e bola de gude, soltar pipa e pular amarelinha fazem parte das boas lembranças de Ivan Cruz, um advogado que aposentou terno e gravata para se dedicar às artes plásticas. E foram essas recordações da infância passada na Penha Circular e em Vigário Geral, Zona Norte do Rio de Janeiro, que o inspiraram a pintar quadros e fazer esculturas com a temática das brincadeiras populares - mais de 100 já retratadas em suas obras.
O primeiro quadro
O interesse pela arte começou ainda na infância, quando conheceu os quadros de Candido Portinari. "Eu me interessei pela forma geométrica de suas obras." Entretanto, acabou não seguindo inicialmente o caminho das belas-artes, porque o pai queria que ele fizesse algo aceito "no mundo dos normais", como engenharia ou medicina. Acabou cursando direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mas a vocação artística nunca o abandonou.
"O primeiro quadro que vendi foi para um colega da faculdade. Lembro que tinha as imagens de um sol forte e um cactus", recorda. Depois desses tempos estudantis, Cruz foi trabalhar como advogado criminal. Ainda assim, os crimes violentos com que teve de se deparar no dia a dia da profissão não fizeram seu coração endurecer. Em 1986, abandonou a advocacia e investiu no que mais gostava de fazer. Quatro anos depois, pintou o primeiro quadro com a temática da infância e nasceu a série Brincadeira de Criança. A partir daí, não parou mais.
Um museu de brinquedos
Ivan já fez três exposições na Europa e tem um quadro e uma escultura incorporados ao acervo do Museu do Brinquedo da cidade de Seia, em Portugal. Há também obras suas em um hospital e uma escola em Cabo Frio, cidade da Região dos Lagos do estado do Rio de Janeiro, onde mora com a família. Desde que começou a se dedicar integralmente a esta proposta, organizou exposições e oficinas de criação de brinquedos. Em julho deste ano, Ivan participou do Curso de Aperfeiçoamento Ideias e Caminhos da MultiRio, direcionado a professores alfabetizadores da rede municipal do Rio. O tema de sua aula foi Brinquedos, Brincadeiras e Jogos.
O sonho de Cruz ainda não está completo. Ele pretende continuar contribuindo para a educação através de sua arte, sempre com exposições e oficinas em escolas, universidades e espaços culturais. Seus projetos futuros são o Museu do Brinquedo e uma brinquedoteca em Cabo Frio.
Público interage com quadros e brinquedos
As exposições do artista plástico Ivan Cruz primam pela criatividade. A entrada, geralmente, é um jogo de amarelinha, que o visitante deve pular casa a casa. Outra característica é que, além de quadros e esculturas, ele também deixa à mão os brinquedos retratados nas obras; por exemplo, diante da imagem de uma patinete, está o próprio objeto, para ser experimentado. No final, as crianças podem participar de uma oficina de criação de brinquedos.
Os quadros pintados pelo artista têm traços marcantes como a ausência de forma anatômica nas crianças retratadas. Seus personagens não têm olhos, nariz e boca, tampouco mãos e dedos. Além disso, as cores são vivas, e as crianças geralmente estão brincando na rua, com pés descalços. "Faço um trabalho livre, leve e solto, que surge naturalmente. A preocupação maior é com o movimento. A falta de fisionomia dá um caráter de universalidade. Só que quando crio eu vejo essas crianças olhando para mim, sorrindo."
Segundo Ivan, o sol é uma fonte de inspiração e as cores fortes retratam, justamente, o seu calor. "Eu não consegui trabalhar em Portugal, quando estava muito frio. Por isso, pinto as crianças na rua, debaixo de um céu azul. Só tenho um quadro em que elas estão brincando dentro de casa", constata.
O resgate da infância
O artista plástico faz questão de ressaltar que experimentou todas as brincadeiras populares trabalhadas em suas obras e lamenta que hoje os pequenos não se interessem mais por esse tipo de atividade lúdica. "Você não vê mais crianças brincando de roda ou com pião. Agora, existem os jogos violentos, que ensinam a matar, jogar bomba", constata, referindo-se aos videogames. Para ele, a tecnologia deve ser usada sim, mas com moderação, "para ajudar na ludicidade do bom, do belo e do agradável."
Ivan Cruz vem tentando passar esses valores para o neto Pedro, de6 anos. Quando está com o menino, solta pipa e joga bola de gude. Na sua opinião, os pais deveriam ser obrigados a brincar com as crianças, já que a correria do dia a dia os afasta dos filhos. Por isso, o artista não tem dúvidas: o mundo seria bem melhor se todos brincassem ou já tivessem experimentado uma infância como a sua, de pés descalços no chão e repleta de fantasia.
Mais sobre Ivan Cruz no site http://www.brincadeirasdecrianca.com.br/
Fonte:
http://portalmultirio.rio.rj.gov.br/portal/area.asp?box=N%F3s+da+Escola&area=Entrevistas&objeto=entrevistas&id=73327
Nenhum comentário:
Postar um comentário